23/02/2009

O QUE APRECIO NOS CARISMÁTICOS

Um reavivamento carismático está a varrer a América, Europa e muitos países Africanos. E tudo começou na Califórnia, em Abril de 1960. Dennis Bennett, reitor da Igreja Episcopal de St. Marks, em Van Nuys, fez à sua congregação uma surpreendente declaração e o cristianismo nunca mais foi o mesmo. Bennet informou o seu povo que, em Outubro de 1959, ele tinha recebido o "Baptismo do Espírito Santo". Ele declarou: "O Espírito Santo tomou os meus lábios e a minha língua e formou uma poderosa linguagem, que eu mesmo não conseguia entender."

A sofisticada Igreja de Bennett ficou chocada. Um dos seus colegas renunciou e foi embora e não foi o único. Mas multidões, desde então, têm tido uma experiência igual à de Bennet.
Grandes concentrações enchem estádios de futebol. Testemunhos de vidas modificadas ecoam pelo ar no meio de fervorosos aleluias. Lágrimas de alegria descem pelos rostos. Lado a lado, Protestantes e Católicos cantam "somos um no Espírito". Não resta a menor dúvida, algo grande está acontecer. Segundo uma recente pesquisa do Gallup, mais de 40 milhões de americanos nas diversas denominações consideram-se Carismáticos. Muitos julgam esse despertamento o maior evento religioso desde o Pentecostes no primeiro século. Outros não têm tanta certeza. O que está realmente a acontecer? Para entender esse reavivamento Carismático, temos que voltar aos dias dos primeiros Metodistas.

John Wesley ensinou que, depois dos crentes nascerem de novo, uma "salvação mais alta ainda" os aguardava. Ele chamava essa experiência a "segunda bênção" do Espírito Santo. Poderia vir de repente, disse Wesley, purificando instantaneamente e renovando a alma. O pecado seria substituído pelo amor perfeito. Wesley e os seus pregadores desafiavam os seus ouvintes a buscar o grande derramamento de bênçãos do Espírito. O próprio Wesley nunca afirmou ter obtido essa segunda bênção. Mas ele buscou a experiência até à morte.

Desde a morte de Wesley, alguns dos seus mais directos colaboradores continuaram a promover a segunda bênção. Entre eles, destaca-se Phoebe Palmer, que publicou um "guia para a perfeição do cristão". Nele, sugeria que a santidade plena não é ganha pela luta espiritual, mas pela confiante reivindicação das promessas de Deus. Chamou a essa experiência o baptismo do Espírito Santo.

Apesar dos esforços de muitos revivalistas, durante o século 19, a Igreja Metodista estava a perder o seu primeiro amor. Esta renovação espiritual veio dar um impulso impressionante, tanto individual como colectivo. Um desses grupos inspirou Hannah Whithall Smith a escrever um livro maravilhoso: O Segredo para Uma Vida Cristã Feliz.

Muitos revivalistas da santificação promoveram uma religião ao estilo pentecostal, que enfatiza os milagres. Crendo estarem sob a orientação directa do Espírito Santo, eles resistiram às restrições da autoridade da Igreja. Finalmente, a Igreja Metodista sentiu-se forçada a desaprovar o movimento da santidade. Assim, os pentecostais cresceram fora do Metodismo.
Em poucos anos, na viragem do século XX, mais de 20 grupos de santificação tinham nascido. O maior deles era o dos Nazarenos e o da Igreja Peregrinos da Santificação. Mais tarde, apareceram várias Igrejas de Deus, e outras denominações. Muitos crentes da santificação começaram a falar em línguas. Charles Fox Parham, um curador da fé em Topeka, Kansas, espalhou esses reavivamentos de línguas. Parham insistia no falar em línguas como uma experiência necessária para cada cristão.

Rapidamente os Pentecostais inflamavam as igrejas na cidade de Los Angeles, na cena do famoso reavivamento da Rua Azusa, em 1906. O falar em linguas tornou-se o foco da religião para muitas denominações da santificação. Mas a linha principal dos Protestantes e dos Católicos evitava o Pentecostalismo. Nos anos 60, quando tudo mudou. Depois que Dennis Bennett tomou posição em St. Marks, as barreiras ruíram entre os pentecostais e os seus colegas protestantes. Crentes ansiosos formaram grandes grupos de denominações e começaram a falar em línguas. Esse novo movimento tornou-se conhecido como a Renovação Carismática.

Em pouco tempo, alguns Católicos juntaram-se às fileiras dos Carismáticos. Em junho de 1967, noventa católicos reuniram-se em Notre Dame para celebrar a sua experiência de línguas. Sete anos mais tarde, aquele grupo tinha aumentado para 35 mil. O crescimento Carismático entre os católicos tem sido notável, quase incrível. Uma recente pesquisa mostrou que mais de quatro milhões de Católicos americanos assistiram a uma reunião de Carismáticos naquele mês em que tinham feito a pesquisa.

O que pensam os líderes católicos sobre as línguas? Bem, o Papa Paulo VI abençoou o reavivamento Carismático. E, no início de 1981, o Papa João Paulo II expressou apreciação explícita pela renovação Carismática dentro da Iigreja. Muitos estudiosos católicos têm apoiado as línguas. Edward O'Conner escreve: "Os católicos que aceitaram a espiritualidade pentecostal têm-na achado em completa harmonia com a sua fé e vida espiritual."

Muitos leigos se têm envolvido com esses grupos Carismáticos. O maior e mais conhecido deles é a Associação Internacional de Empresários do Evangelho Total. Demos Shakarian, fundador e Presidente desse grupo foi entrevistado por Vandeman.

Vandeman: Vocês têm reunido milhares de homens de negócios. Como é que se chama esse movimento?
Shakarian: Chama-se Associação Internacional de Empresários do Evangelho Total. Começamos com 21 homens. Hoje, somos mais de 800 mil e reúnem-se todos os meses em 87 países e quatro mil núcleos. É o poder do Espírito Santo.
Vandeman: O que o leva ser um cristão Carismático?
Shakarian: É onde está o poder. O poder do baptismo do Espírito Santo. Pensaram que estávamos loucos. Mas eu disse: Deus mandou o Seu poder para toda a América. Preparemo-nos para receber o melhor do Espírito Santo. É o mesmo poder que os discípulos receberam no cenáculo. O poder e a salvação desceram. Três mil foram salvos num só dia, cinco mil noutro dia. E Pedro ressuscitou os mortos e curou os doentes. Ele não fez aquilo sozinho. Fez pelo poder do Espírito Santo. Eu sabia que era o que os homens queriam ver, a realidade do cristianismo, o movimento Carismático.
Vandeman: É preciso falar sobre o Espírito Santo, amá-Lo, aceitá-Lo e recebê-Lo mais do que qualquer outro dom, você não concorda?
Shakarian: Sim, concordo.
Vandeman: Acha que o meu tratamento convosco foi juto?
Shakarian: Sim, foi!

Os Carismáticos têm contribuído muito para a espontaneidade e alegria do culto. E, nesta época de auto-suficiência secular, eles lembram-nos que somos seres dependentes do Espírito de Deus para cumprir o Seu propósito na nossa vida. Outra coisa que eu gosto nos Carismáticos é o da sua experiência de oração. Quando oram, oram realmente! Eles esperam respostas de Deus. Repito: existem muitas coisas que eu aprecio nos Carismáticos. De facto, eu mesmo sou um Carismático, no sentido bíblico da palavra. Deixe-me explicar, por favor. A palavra "Carismático", em grego, significa "Dom da Graça". E eu creio nos dons do Espírito.

Assim, como vê, sou um Carismático. Mas eu não falo em línguas. Ora, isso cria uma dúvida para muitos Carismáticos. Sabe, eles crêem que as línguas são a prova da presença do Espírito Santo. Se eu não falar em línguas, não sou um privilegiado. Talvez seja um cristão de segunda classe. Alguns provavelmente até digam que, por eu não conseguir falar em línguas, não estou salvo. Não os censuro por nada. E eles também não me censuram. Eles só estão preocupados a minha salvação. Mas vamos relembrar que existem inúmeros e vários dons do Espírito. A Bíblia nunca diz que todos recebem o mesmo dom. Jesus tinha o poder do Espírito como nenhum outro jamais teve, ou jamais terá. João Baptista disse: "...Deus dá do Seu Espírito sem medida." João 3:34.
Todavia não há nenhum registo a indicar que Jesus alguma vez falou em línguas. Isso é uma coisa para se pensar, não é? Qual é o propósito das línguas? Bem, os apóstolos usavam as línguas para comunicar o Evangelho em idiomas estrangeiros. A palavra traduzida por "língua" significa "linguagem".

Quando Cristo enviou os Apóstolos para evangelizar o mundo, Ele não queria que eles tivessem que passar anos a estudar idiomas. Assim, deu-lhes o dom de línguas. Milhares de todas as partes ouviram o Evangelho na sua própria lingua no dia de Pentecostes.

Agora, há outro dom que os Carismáticos mencionam muito: o dom de curas. Você pode ver aqueles que curam na televisão. Eles dizem que Deus quer curar todas as doenças desde que tenhamos fé. Bem, eu certamente creio na cura. Mas a garantia da cura instantânea pode não ser uma boa notícia, afinal, ela pode criar um tremendo peso de culpa.

Se a fé deve sempre trazer a cura, então aqueles que permanecem doentes não têm fé? O doente de algum modo não é "suficientemente espiritual" para ser curado? Este é um assunto sério. Se a fé que me salva deveria me curar, então quando não sou curado, talvez eu não esteja salvo?
Muitos santos com doenças incuráveis clamam a Deus para serem curados, no entanto continuam doentes. Nessas circunstancias muitos começam a duvidar da salvação. Carregam um fardo de culpa pior até do que a sua dor.

Como disse, eu creio na cura divina. Muitos pelos quais tenho orado têm sido milagrosamente curados. Mas também tenho visto muitos santos morrerem doentes. E Deus os ama do mesmo modo como se Ele os tivesse curado. Sabe, Deus quer nos curar no momento e do jeito que Ele quiser, como sabe que é melhor. Às vezes, Ele cura de imediato; Às vezes, espera para nos curar na ressurreição, quando Jesus vier.

O apóstolo Paulo cria em curas. Ele até ressuscitou um jovem da morte. Mas ele próprio nunca foi curado de uma misteriosa aflição chamada de "espinho na carne". Três vezes ele suplicou a Deus que o livrasse. Finalmente, ele aceitou aquele sofrimento. E foi uma bênção, para mantê-lo humilde e dependente. Assim, ele entregou a sua aflição a Deus e prosseguiu com a vida. É preciso mais fé para pedir para ser curado agora, ou para submeter a vontade a Deus e deixar que o Senhor faça o que for melhor. O que exige mais fé? Obter o que eu quero agora ou deixar Deus operar a Seu próprio tempo e maneira?

Graças a Deus, a salvação não depende de termos ou não uma determinada resposta à oração. Em vez disso, ser salvo depende da nossa decisão em confiar e obedecer a Jesus. A nossa esperança repousa em Cristo, não em nós mesmos. Jesus é a nossa passagem para o Céu.
A nossa fé deve aceitar a Cristo, e não exigir como se tivéssemos a competir com os Apóstolos e todos aqueles que receberam resposta às suas orações. Olhar pela fé Jesus na cruz é o sublime milagre. E assim somos salvos através do sangue de Jesus, não pelos milagres que Deus opera na nossa vida.

Deus fará maravilhas na nossa vida se cooperarmos com Ele. Mas quando colocamos a confiança em Cristo, não faremos das nossas conquistas espirituais um salvador.

Suponhamos que eu me sinta seguro da salvação só porque vejo milagres aconteceren na minha vida. Posso tornar-me descuidado na minha obediência? Um Carismático escreveu na capa da sua Bíblia: "Pouco me importa o que a Bíblia diz, eu já tive uma experiência". Não nos compete questionar a sinceridade desse homem. Mas certamente o Espírito Santo, que inspirou a Bíblia não nos levaria a negligenciar a obediência à Palavra de Deus. Será que é por isso que a Bíblia nos traz uma advertência em I João 4:1? "Não deis crédito a qualquer espírito, antes provai os espíritos se procedem de Deus."

Sem dúvida, o inimigo pode falsificar o Espírito Santo. Satanás e os seus anjos podem operar “verdadeiros” milagres, até fazer com que desça fogo do céu num falso Pentecostes. E as Escrituras na verdade predizem que o inimigo realizará maravilhas do mal usando o nome de Jesus Cristo. "Muitos Me dirão naquele dia; Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E em Teu nome não expulsamos demónios? E em Teu nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7:21-23

Os falsos profetas usarão o nome de Cristo para praticar o mal. Satanás pode abusar do dom de cura em nome de Jesus. Ele pode falsificar o dom de línguas. Afinal, ele é um anjo caído. Ele pode falar qualquer língua da Terra ou do Céu. Os milagres em si mesmo não são nenhuma prova da presença de Deus.

Evidentemente, alguns milagres podem ser operados pelo inimigo, por isso a Bíblia exorta a provar os espíritos? E qual é a prova? Como podemos distinguir o que vem de Deus e o que é contrafacção? As Escrituras dizem com toda clareza: "Pois amar a Deus é obedecer aos Seus mandamentos. E os Seus mandamentos não são difíceis de obedecer." I João 5:3.
Como vemos, o amor para Deus significa muito mais que um sentimento que aquece o coração quando O cultuamos. A verdadeira prova do amor cristão é a obediência aos mandamentos de Deus. Por isso, cuidado! Acredito que os Carismáticos (Pentecostais e outras Congregações Cristãs) concordarão que devemos ter cuidado e não nos deixar-mos levar por qualquer vento de doutrina.

Não devemos ficar satisfeitos com a experiência da mornidão, sem ousadia e a falta do fogo do Espírito Santo na vida. Deus quer que os seus Filhos vivam uma experiencia mais rica, que tenhamos mais, quer encher os nossos corações com amor transbordante. Quer dar-nos a vitória sobre o pecado e guiar-nos a toda a Verdade. O Espírito Santo é o maior dom de Deus e é e nossa maior necessidade.

Termino com uma história. Mencionámos Hannah Whithall Smith e o livro O Segredo para uma Vida Cristã Feliz.
Em 1865, Hannah e o seu marido, Robert, mudaram-se com a família para Milltown, Nova Jersey. Foi onde Hannah conheceu os Metodistas da Santificação. Apesar de ela ser uma Quaker, ficou profundamente impressionada com eles.
Robert partilhou do interesse da esposa pela vida da santificação. E num Verão assistiram a uma reunião sobre a santificação numa floresta na Costa de Nova Jersey. Mas Robert recebeu uma experiência espiritual sensacional, que foi descrita por sua esposa: "Após a reunião o meu marido foi sozinho para um ponto da floresta, para continuar a orar a sós. Quando, de repente, da cabeça aos pés ele foi abalado pelo que parecia ser uma vibração magnética de prazer celeste, e jorros de glória pareciam derramar-se sobre ele, alma e corpo, com a segurança interior de que aquele era o ansiosamente esperado baptismo do Espírito Santo."
Naturalmente isso fez Hannah desejar uma experiência semelhante. Ela foi ao altar noite após noite. Orou durante horas a fio. Mas nada aconteceu. Não foi dessa vez que ela teve uma experiência espiritual espetacular como o seu marido tinha tido. A princípio, ela ficou desapontada e acaba por concluir que Deus já lhe tinha dado o Espírito na paz que reinava no seu coração. Ela possuía algo mais permanente e substancial do que uma experiência dramática e emocional. Mas a história não terminou.
Na primavera de 1875, Robert viajou para a Alemanha, onde realizou reuniões evangelísticas e de ensinos altamente bem-sucedidos perante grandes multidões, mas sempre numa atmosfera bastante carregada de emoção.
Numa carta à esposa, ele exultou: "Toda a Europa está aos meus pés!" E quando retratos seus foram oferecidos à venda, oito mil foram vendidos imediatamente. Então caiu a base do ministério de Robert. Circularam boatos sobre a sua questionável conduta com as mulheres e os boatos chegaram à imprensa.
As reuniões foram canceladas pelos patrocinadores. Robert voltou para casa, para junto de Hannah. Hannah permaneceu fiel junto do marido, apoiando-o em silêncio. Que aconteceu com Robert e a sua sensacional experiência espiritual? A sua fé falhou. Ele afundou-se em grande depressão. Hannah continuou a viver o seu cristianismo calmo e consistente.

É admirável a fidelidade desta mulher! Vamos deixar Deus entrar na nossa vida da maneira que Ele preferir. Ele pode não vir até nós com o dom da cura ou de línguas. Pode vir como foi com Elias na Grutoa do Carmelo numa brisa calma e suave. Uma coisa é certa se deixarmos o Senhor entrará na nossa vida quendo nos rendermos pela fé. E não precisamos de esperar uma experiência sensacional. A paz e plenitude do Espírito Santo pode ser sua agora.