21/02/2009

O QUE EU APRECIO NOS CATÓLICOS

São cinco horas e dezanove minutos. O papamóvel branco circula pela praça de São Pedro, em Roma, entre a multidão que acena e aplaude.

Ninguém vê a mão que sorrateiramente tira uma pistola Browning do bolso. Ninguém espera o que está para acontecer. O disparo repentino ocorre e o sorridente homem de branco geme de dor. Os ombros largos curvam-se e ele cai lentamente. Os aplausos transformam-se em gritos. Numa dúzia de idiomas, a terrível notícia corre pela multidão: "O Papa foi atingido!" O sangue corre de um grave ferimento. A corrida pela vida em direcção ao Hospital Gemelli é uma cena de profundo horror. Mortalmente pálido e quase inconsciente, João Paulo murmura: "Por que fizeram isto?"

Milhões multiplicados repetiam a angustiante pergunta: "Por quê?" Orações eram feitas de todas as partes. Padres, pastores e rabinos apelavam nas suas respectivas congregações a fervorosas intercessões pelo Papa. João Paulo recuperou e voltou para os braços abertos de 750 milhões de Católicos. Continuou a sua campanha mundial pela amizade, paz tem continuado ao longo dos anos. O que há em João Paulo que conquista corações em todo o mundo ? Eu acho que todos apreciamos seu estilo amigável e caloroso.

Desde os anos 60, o mundo ocidental tem procurado um “estilo” de liberdade sem limites. A sociedade dos anos 60 começou a seguir uma tendência diferente: "Faz o que quiseres, somos senhores do nosso destino." E era tudo em nome da paz e do amor. Mas isso resultou numa “moral” sem limites.

Essa forma de pensar e agir levou para o esgoto da dor e da vergonha. Sofremos com o problema da gravidez, da embriaguez e do consumo de drogas pelos adolescentes. Sem falar do vandalismo, da violência e das doenças sexualmente transmissíveis. Tudo isso devido à rejeição dos padrões morais absolutos de Deus, os Dez Mandamentos. A América finalmente recobrou os sentidos.

O final dos anos 70 trouxe um reavivamento da moralidade, quando muitos que tinham rejeitado a Lei de Deus mudaram de ideia. Eles passaram a entender que aquele acto social jamais poderia tomar o lugar dos valores espirituais.

E quanto à tendência diferente que a sociedade vinha seguindo? Eles começaram a achar que ela não servia. Nessa atmosfera de renovação religiosa, João Paulo tornou-se Papa. Ele preencheu rapidamente o vazio da liderança moral. Muitos jamais esquecerão a visita que ele fez aos Estados Unidos no outono de 1979.

"Tenho vindo a todos com uma mensagem de esperança e paz de Jesus Cristo", disse João Paulo. E tinha um conselho especial para os jovens: "Muitos jovens fogem da sua responsabilidade, fogem para o egoísmo, fogem para o prazer sexual, fogem para as drogas, fogem para a violência, eu lhes prometo a opção do amor, que é o oposto da fuga. Pois foi Jesus, nosso Senhor Jesus em pessoa, que disse: “Serão Meus amigos se fizerem o que Eu mandar.” Muitos pensavam que os jovens tinham rejeitado o chamado do Papa para a lei espiritual e a ordem. Mas não, 19 mil adolescentes no Madison Square Garden bateram palmas quando ele os convidou a disciplinarem as suas vidas. Compreendiam a necessidade de uma mudança nas suas vidas a nível moral e aceitavam o desafio do Papa João Paulo II. E do mesmo modo estavam os milhões de Católicos espalhados por todo o Mundo.

Oitenta mil pessoas esgotaram o Yankee Stadium para ouvir o Pontífice. Uma avalanche de aplausos se seguiu quando o Papa os admoestou a repartirem com os pobres e os oprimidos.

O apelo de João Paulo II pela moral e a compaixão tocava os corações por onde quer que ele fosse.

Apresentamos uma entrevista do Pr Vandeman ao Dr Samuel Bachiochi:
(Dr. Samuele Bacchiocchi fez um doutorado na famosa Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma. Após cinco anos de estudos naquela cidade, ele foi premiado com a mais alta honra que o Pontífice pode dar a uma pessoa formada pela Universidade: a medalha de ouro pelo brilhantismo de sua conquista académica.)

Vandeman: Dr. Bacchiocchi, o que o senhor mais aprecia nos Católicos Romanos?

Dr. Bacchiocchi: Eu lembro-me de várias coisas que realmente aprecio no povo Católico. A nível pessoal, o que eu gosto é o modo como me trataram durante aqueles cinco anos que passei em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Sabe, eles aceitaram-me como um "irmão separado", mas na realidade trataram-me como um verdadeiro irmão cristão: com amor, respeito e bondade. Num sentido mais geral, o que eu gosto nos Católicos é o modo dedicado pelo qual eles realizam os seus exercícios religiosos. Eu fui privilegiado, enquanto estudava, observa os meus professores, padres e monges passando as primeiras horas do dia lendo e meditando sobre a realidade espiritual. E o impacto dessa comunhão diária com Deus podia ser sentida de facto na sua disposição única e agradável. Eu também admiro grandemente o espírito de sacrifício de incontáveis padres, monges e freiras, como a Madre Teresa de Calcutá, que serviu e o seu legado continua a servir, sem pensar no sacrifício pessoal, aos necessitados, aos que sofrem, aos esquecidos da sociedade actual.

Vandeman: Concordo com você. Agora, o que você acha dos ensinamentos Católicos?

Dr. Bacchiocchi: Existem vários ensinamentos Católicos que o senhor pode entender que eu acho inaceitáveis, como a transubstanciação, a imaculada Conceição, a infalibilidade e a primazia papal. Por outro lado, existem certos ensinamentos Católicos únicos que eu não só admiro, mas acredito que são muito relevantes para a nossa época. Estou a pensar particularmente no compromisso Católico Romano para a preservação da santidade do casamento e através da inviolabilidade da vida humana. Vivemos numa sociedade em que muitos cristãos passaram a ver o casamento como uma instituição social civil que pode ser facilmente dissolvida quando as circunstâncias se proporcionarem. Por isso, creio que a Igreja Católica tem que ser condecorada pelo seu compromisso de nos lembrar que o casamento é sagrado e o que Deus uniu ninguém tem o direito de separar. Eu também admiro os esforços que a Igreja Católica realiza actualmente, desde o Vaticano II, em promover a circulação e a leitura da Palavra de Deus. Acredito que essa tendência é muito positiva e pode ajudar os cristãos a enriquecerem a sua experiência espiritual. A minha grande esperança e oração é que, como Protestantes, possamos apreciar mais plenamente a experiência religiosa e as convicções teológicas dos Católicos. Em contraposição, que os nossos amigos Católicos, através de um estudo renovado das Escrituras, redescubram algumas das verdades bíblicas vitais perdidas.

Vandeman: E quem poderia ter dito isso melhor do que você? Obrigado por ter vindo.

Num mundo de progresso material, mudança social, os valores morais têm sofrido erosão. Mas a Igreja Católica Romana luta pela moralidade e a decência. E muitos Católicos defendem a integridade da vida humana, juntamente com muitos Protestantes que reconhecem o respeito pela vida humana como uma verdade negligenciada. Essas convicções têm enriquecido o mundo.
A Igreja Católica tem permanecido firme, mesmo quando outros têm escorregado. Eu também gosto dos Católicos por causa dos seus muitos exemplos radiantes de genuíno amor cristão, um amor altruísta que nada pede em troca, o tipo de amor que Jesus mostrou na Sua vida.

Nosso exemplo preferido, como nos lembrou o Dr. Bacchiocchi, é a falecida Madre Teresa de Calcutá, Índia. Quem tem um coração tão duro que não se comove ao conhecer a profundidade do que essa querida mulher fez? E não podemos esquecer que existem milhares de outras freiras e padres como Madre Teresa em todos os cantos do mundo. Somente na eternidade saberemos dos sacrifícios desses heróis anónimos.

Outra coisa que eu aprecio nos Católicos é o seu sincero amor por Jesus e o seu crescente interesse pelas Escrituras.

O Concílio da Igreja do Vaticano II, nos anos 60, incentivou os membros a lerem a Palavra de Deus. E algumas das melhores pesquisas bíblicas estão a ser feitas por estudiosos Católicos.

Bem, vocês sabem que eu não sou Católico Romano. Portanto, existem diferenças entre as minhas crenças e as da Igreja Católica. E isso é natural e deve ser compreendido. Provavelmente, a maior diferença entre nós seja a questão da infalibilidade papal, e o papel da tradição na interpretação das Escrituras como base da autoridade espiritual. Mas tenho notado nos últimos anos, desde o Vaticano II, o desenvolvimento de uma tendência entre muitos estudiosos Católicos e leigos informados. Ou seja, uma tendência de voltar para as Escrituras como base da fé. Eles reconhecem o destacado papel que a Tradição desempenhou no passado, fazemos votos para que olhem a Bíblia coma a soberana Palavra de Deus. As tradições da Igreja podem mudar através dos tempos, mas a Palavra de Deus permanece a mesma.

Esta é outra razão por que mais e mais Católicos estão a reconhecer a importância da Bíblia. Seria essa a mensagem que recebemos da visita do apóstolo Paulo a Beréia? Beréia, da antiga Macedônia, é actualmente a cidade de Veróia, na Grécia. Os bereanos eram felizes por terem o ministério de Paulo. Eles deviam até aplaudi-lo quando ele chegava à cidade. E ouviam atentamente tudo o que ele tinha a dizer. Mas os bereanos analisavam os ensinamentos de Paulo. E o apóstolo não se importava. Actos 17:11: "Ora estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim."

O apóstolo Paulo convidou a Igreja para avaliar o que ele lhes tinha ensinado. Ele queria que os seus membros provassem por si mesmos nas Escrituras antes de aceitarem os ensinamentos.
Assim, os bereanos não estavam a ser infiéis ao procurarem confirmar se o que lhes era ensinado estava de acordo com a Bíblia (Velho Testamento). Na verdade, Paulo disse que eles eram nobres por agirem assim. O teste que o apóstolo Paulo aplicava aos seus próprios ensinamentos serve para os líderes da Igreja e professores de Bíblia de hoje. Apesar de eu ter algumas diferenças básicas com a Igreja Católica Romana na interpretação da Bíblia, deixe-me dizer outra vez: aprecio a reverência que muitos Católicos têm pelas Sagradas Escrituras. Precisamos também de nos lembrar de que todo Catecismo Católico ensina a obediência à Lei de Deus. Mas você já notou a diferença entre os Dez Mandamentos ensinados pela Igreja de Roma e os Dez Mandamentos que encontramos na Bíblia? Leia no seu Catecismo e verá que falta o segundo Mandamento - aquele que proíbe o uso de imagens no culto.

Evidentemente, esse Mandamento criava um problema à luz do ensinamento da Igreja. Assim, ele foi removido totalmente dos Catecismos. Mas como é que a Igreja ainda conta Dez Mandamentos? Bem, ela dividiu o Décimo Mandamento em dois, de modo que ainda temos dez. Aqui nós temos que ser cuidadosos e justos.

Não vamos entender mal o uso das imagens pelos nossos amigos Católicos. Eles não adoram as imagens em si, pois sabem muito bem que são apenas estátuas de madeira e pedra. Eles reverenciam a vida dos santos representados por aquelas imagens.

Os Católicos crêem que certos santos andaram tão perto de Deus que os seus caracteres se tornaram santos. E agora, através dos méritos desses santos, eles ensinam que os cristãos perfeitos podem se aproximar de Deus. Bem, eu entendo que o segundo Mandamento não permite fazer relíquias dos santos. Porque todos os humanos, mesmo os melhores de nós, carecem do ideal de Deus. Todavia, há boas notícias.

Todos os que crêem e obedecem ao Evangelho são considerados santos. Isso quer dizer que todos podemos nos aproximar de Deus sozinhos através do sangue de Cristo. Assim, muitos Católicos agora têm passado a crer que todos os cristãos são igualmente perfeitos aos olhos de Deus através de Jesus.

Vamos examinar o que aconteceu no quarto Mandamento, que consta como o terceiro no Catecismo Católico. Esse é o Mandamento do Sábado, e também foi trocado. Essa pode ser uma revelação surpreendente para alguns, mas a Igreja Católica Romana não hesita um só momento em afirmar que foi ela que mudou o Sábado para o Domingo como o dia de guarda.
No Catecismo dos Convertidos das Doutrinas Católicas, pág. 50, lemos:
P. Qual é o dia de descanso?
R. O Sétimo Dia é o dia de descanso.
P. Por que observamos o Domingo ao invés do Sétimo dia?
R. Observamos o Domingo ao invés do Sétimo Dia, por que a Igreja Católica transferiu a solenidade do Sétimo Dia para o Domingo.
Não é interessante?
Há uma história fascinante por trás de tudo. No século 16, no histórico Concílio de Trento, a Igreja Católica refutou os Protestantes por usarem só o uso da Bíblia. E a razão dada por eles era que a Igreja tinha mostrado autoridade para reinterpretar as Escrituras. E, influenciada por sua própria tradição, tinha transferido o sábado para o domingo.

No livro Cânon e Tradição, o Dr. H. J. Holtzmann descreve a cena passada no Concílio de Trento. Note como a decisão foi tomada para dar preferência à tradição na interpretação das Escrituras.
"Finalmente, no dia 18 de Janeiro de 1562, toda hesitação foi posta de lado. O Arcebispo de Reggio fez um discurso onde declarou abertamente que a Tradição estava estabelecida acima das Escrituras. A autoridade da Igreja não deveria, portanto, submeter-se à autoridade das Escrituras, porque a Igreja tinha mudado... o Sétimo Dia para o Domingo, não pelo comando de Cristo, mas por sua própria autoridade."

Portanto, o que pesou no dia em que foi tudo colocado na balança? Foi o facto de a Igreja ter, com efeito, mudado um dos Mandamentos de Deus, o sábado, com a autoridade da tradição. Agora, os Protestantes podem estar mais surpreendidos que os nossos amigos Católicos quanto a esta revelação. Afinal, os Católicos Romanos orgulham-se do que eles crêem ser a autoridade da Igreja na interpretação das Escrituras. Embora eu pessoalmente não possa aceitar a Tradição como tendo qualquer influência sobre a crença, quero dizer que os Católicos são pelo menos consistentes com a sua tradição de guardar o Domingo.

Talvez os nossos amigos Protestantes devessem perguntar a si mesmos por que guardam o domingo, já que a Tradição está na sua origem e não a Bíblia! É algo para serem bem pensado, não acham? Você sabia que a Bíblia provê uma descrição especial do povo fiel de Deus pouco antes da vinda de Jesus? Vamos lê-la em Apocalipse 14:12. "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé de Jesus."

A Fé em Jesus e a guarda dos Mandamentos de Deus estão juntos. Logicamente, na hora final da Terra, os cristãos sinceros em toda parte guardarão os Mandamentos de Deus. Aqueles que foram escritos por Deus no Monte do Sinai, não outros.

Bem, sejam quais forem as nossas diferenças, podemos apreciar uns aos outros. E eu vejo tantas coisas de que gosto nos meus amigos Católicos (eu fui Católico, comunguei em Particular, Solene e fui Crismado). Mais do que qualquer coisa, admiro a dedicação de muitos milhares de Católicos ao redor do mundo que têm dado a sua vida para aliviar o sofrimento de outros seres humanos. E não conheço nenhum reflexo maior do amor de Cristo que o demonstrado por Maximilian Kolbe, um padre franciscano polaco, que sacrificou a sua vida durante a Segunda Guerra Mundial. Prisioneiro num campo de prisioneiros em Auschwitz, Kolbe, dia a dia, encorajava os seus colegas de sofrimento. Ele dividia a sua ração com os doentes e enfraquecidos, apesar de estar muitas vezes pior do que aqueles a quem ajudava. Ele liderava os prisioneiros em oração, trazendo a luz de Cristo àquele triste campo de prisioneiros.

Os captores ficavam furiosos com o cristianismo de Kolbe. Eles o espancavam selvaticamente, mas Kolbe apenas orava por eles. E finalmente ele pagou o maior dos preços por sua fé e amor. Uma tarde, as terríveis sirenes começaram a soar. Um prisioneiro tinha fugido. Como retaliação, dez homens foram escolhidos para morrer por seu companheiro que fugira. Um dos dez condenados, um jovem pai, caiu no chão a chorar, pensando na sua família. De repente, Kolbe deu um passo adiante.
"O que quer?" gritou o comandante do pelotão da morte.
Kolbe respondeu suavemente:
"Quero morrer no lugar desse prisioneiro."
O nazista frio ficou chocado e sem palavras. Finalmente conseguiu dizer:
"Pedido concedido."
Kolbe foi lançado numa espúria prisão subterrâneo e abandonado para morrer à fome. Durante os seus últimos dias de vida, enquanto morria trémulo, eram ouvidas as suas orações e cânticos. Finalmente, o padre deu o seu último suspiro, fiel até à morte.

Eu quero encontrar esse querido santo no Céu. Eu quero ser fiel à Palavra de Deus. Haja o que houver. Que Deus conceda a todos nós tamanha fé n´Ele que possamos enfrentar o desafio das horas finais na Terra.