11/07/2010

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL: MODOS DE CONHECER O DELITO

(pintura de D. João  IV) O período que apresentamos a seguir passou-se durante os pontificados de Clemente VIII até Gregório XV e continuou, infelizmente!
(Em 1598 Clemente conseguiu fazer e mediar um tratado de paz entre Espanha e França (Paz de Vervins) terminando um longo conflito, e negocia também a paz entre França e Sabóia. Apesar do nome Clemente, não dispunha de clemência com os bandidos que percorriam toda a Itália central, nem com quaisquer criminosos. Também sob o ponto de vista disciplinar sobre heresias foi implacável: foi durante o seu pontificado (17 de Fevereiro de 1600) que Giordano Bruno foi condenado à morte na fogueira.)
Bem como do reinado (D. João IV de Portugal e II de Bragança (Vila Viçosa, 19 de Março de 1604 — 6 de Novembro de 1656) foi o vigésimo primeiro Rei de Portugal, e o primeiro da quarta dinastia, fundador da dinastia de Bragança.)
A Inquisição empregava quatro modos para tomar conhecimento de uma causa: - “o rumor público, a delação secreta, a descoberta por espionagem, a acusação voluntária.”
os inquisidores a cada passo punham de lado as formalidades ordinárias, para prenderem aqueles a quem queriam lançar as garras malditas. Prendiam, com frequência, de improviso. E esta forma de prisão era como se de repente a pessoa morresse para o mundo. Os amigos, os parentes, ainda que fossem pais, irmãos ou filhos, não só não podiam comunicar mais com a criatura presa, como nem sequer o tentavam, ou proferiam o seu nome; pois isso bastaria para que fossem irremediável e implacavelmente presos também. E, por isso mesmo, muitos desgraçados presos, como os esbirros, despojando-se de tudo, antes de os meterem nos cárceres, não podiam levar nada com eles. Muitos preferiam esmagar a cabeça contra as paredes do calabouço a passarem pelo processo do interrogatório.
(pintura de Clemente VIII) Um acusado podia estar meses e meses numa prisão, sem que ao menos se lhe falasse em o ouvir! Meses e meses em subterrâneos, imundos, covas para onde se descia por escadas ou caminhos torcidos, para se não ouvirem os gritos e as queixas. Ali nunca entrava a luz, para que os presos não pudessem ocupar-se de coisa nenhuma, além de si próprios, na dor e no desespero em que estavam. Se duas masmorras estivessem próximas e permitissem ouvir-se os presos uns aos outros, era-lhes proibido falar; e se por acaso falassem, ou sós, ou com alguém, os guardas cobriam-nos de chicotadas!
Quando o acusado aparecia a primeira vez perante o tribunal, os inquisidores olhavam-no como se vissem a criatura mais estranha e indiferente deste mundo! E perguntavam-lhe o que queria…se tinha a dizer-lhes alguma coisa…
É espantoso!
E o desgraçado tinha dois caminhos a seguir: confessar-se imediatamente réu ou afirmar que de nada se sentia culpado. Em qualquer dos casos estava livre da morte. No primeiro, por ser a primeira vez que era denunciado; mas ficava a infâmia sobre toda a família. No segundo caso, porque, se as provas era fracas, como eram geralmente as provas de denúncia, mandavam-no embora…Mas que inferno perseguia incessantemente esta liberdade! O preso ia-se embora… Mas os familiares da Inquisição eram sempre a sua sombra… eram uma obsessão abominável atrás de todos os seus passos, olhando todos os seus actos, de ouvido atento a todas as suas palavras! E à mais ligeira suspeita – o que era temerosamente fácil – diz um historiador – não se sabia o que era perdoar duas vezes.