10/11/2010

A INQUISIÇÃO PORTUGUESA: OS JUDEUS EM PORTUGAL

Os reis de Espanha no dia 31 de Março de 1492, assinaram a sentença de exílio dos Judeus, estes tinham que abandonar a Espanha dentro de quatro meses.
Pensaram, então, em ir para onde tivessem mais probabilidades de ser bem recebidos. Pediram ao rei de Portugal. Felizmente, em Portugal, ainda nessa hora as famílias de raça hebraica estavam no sossego de Deus. D. João II, não deu ouvidos a quem lhe antepunha argumentos contrários à imploração dos Judeus de Espanha, e aceito-os. Fez bem. D. João II, nesse gesto, foi tão grande, quanto foram infinitamente pequenos os reis que lhe sucederam.
Havia um prazo, durante o qual os foragidos do reino vizinho haviam de arranjar meio de se passarem daqui para onde devessem fixar residência definitiva. É verdade que o rei pedia preço pela hospedagem: oito cruzados por cabeça – à excepção dos ferreiros, latoeiros, malheiros e armeiros, pois que estes, vistos os seus serviços interessarem directamente ao Estado, pagariam apenas quatro cruzados por cabeça. Mas o rei foi magnânimo!
Vieram de Espanha vinte mil casais judeus… Depois uns foram para o Norte de África morrer à fome e sob a perseguição selvagem desses povos que, fiados na fama de que todos os Judeus eram ricos, os matavam para lhes procurar o ouro nas entranhas, já que lho não encontravam nos farrapos que vestiam…; outros foram parar à ilha de São Tomé, onde morriam, dizimados pela tormenta do clima e pelos crocodilos que por lá abundavam nesse tempo, conforme testemunham alguns historiadores. Outros seguiram melhores destinos, encarreirados por melhor sorte… Os que não embarcaram, ficaram cativos.
Trabalhavam de graça, mas estavam sossegados na nossa linda terra…
Sossegados! Como se pudesse ter sossego o judeu ou quem ousasse pensar contra a doutrina da Igreja Romana! Talvez tivesse sido melhor para eles afrontar outros perigos… longe de Portugal!
Quando D. João II foi, enfim, a ver o que já há muito não via, e que era o príncipe seu filho… morto no catre de um pescador da ribeira… o príncipe D. Afonso que:

Era de dezassete anos
E casado de oito meses
Perfeito entre os mundanos,
Mui quisto dos Castelhanos,
Descanso dos portugueses,

Como canta Garcia de Resende, sucedeu-lhe D. Manuel, duque de Beja, irmão da rainha viúva. Foi aclamado em Alcácer, com vinte e seis anos, recebendo do cunhado o Reino cheio de prosperidades…
Mas começou logo o Venturoso por despeitar as últimas vontades do rei morto e de tal jeito, que abriu as portas do Reino a quantos eram acusados de conspirar contra D. João II. Àqueles que D. João julgou dever castigar deu-lhes D. Manuel a reabilitação. Parece que o fazia de propósito deliberado. Parece que era ingrato pelo prazer de o ser, o rei! … E pôs inteiramente de banda a política de D. João II, o pobre rei Venturoso! Tanto, que se empertigou logo, em predomínios, a nobreza…
D. Manuel gostava muito da filha dos reis de Castela e Aragão, a princesa Isabel, que era de há pouco viúva do príncipe D. Afonso. Ela amara com primeiro amor o príncipe morto e muito longe da ideia de tornar a casar, lhe andava o coração e o pensamento! D. Manuel, porém, tinha pressa dela e vaidade de a ter. Mandou um primo, D. Álvaro, a Castela, pedir a sua mão. Os pais, que muito interessados estavam nesse casamento, para servirem a causa santa de Roma, tanto teimaram, que ela, afinal, cedeu. Cedeu com uma condição…D. Manuel quando a pediu, indo ao encontro dos desejos dos Reis Católicos, mandou sair do reino todos os Judeus não convertidos, no prazo de dez meses, sob pena última e confisco de todos os bens, no caso de desobediência, em benefício do delator.
A noiva completava a obra. A princesa Isabel mandou estipular expressamente, no contrato de casamento, assinado em Agosto de 1497, a expulsão dentro de um mês de todos os indivíduos de raça hebraica, que, condenados pela Inquisição, tinham vindo buscar refúgio em Portugal. Só depois de verificado este facto, D. Isabel se tinha por obrigada à celebração do enlace matrimonial!
Ódio do coração aos Judeus? Desejo de servir a política paterna? Não se pode definir com inteira justeza a razão íntima que dominava a alma de D. Isabel quando lançou essa exigência.
O que talvez possa afirmar-se, é que o rei fez todo o mal que fez, nesse momento, por amor dela.
A verdade, porém, ergueu-se logo, indefectível, nas imagens cruas da realidade. Viu-se, imediatamente, o erro do golpe. Os Judeus não acudiram à conversão, com medo do exílio. Os Judeus não renegaram a sua crença. Os Judeus iam-se embora… E como nas suas mãos estava a riqueza monetária do País e em grande parte o comércio e a indústria…indo-se eles embora, perdia Portugal uma riqueza enorme.
Alarmou a todos a resolução dos Judeus! O rei reuniu conselho em Estremoz e declarou… ter resolvido obrigar os Judeus ao baptismo.
Foi dali para Évora e mandou de lá as suas ordens: a todos os Judeus que preferiam o desterro ao baptismo fossem tirados os filhos de menos de catorze anos. Antes de aparecerem os oficiais régios, antes mesmo de publicadas as instruções do rei, a noticia correra como ave sinistra por toda a parte! Que horroroso desespero!
As mães resistem até à loucura, em face de tamanha violência e de tão feroz desumanidade! E num delírio fantástico d dores, enfurecidas, fazem os filhos em pedaços, estrangulam-nos, atiram com eles ao fundo dos poços, mas não os entregam aos esbirros do rei que estava servindo os interesses e os ódios de Roma, através dos desejos dos Reis Católicos e da filha, sua noiva.
Começa-se a falar sem rebuços na necessidade, para Portugal, da Inquisição à maneira espanhola.