21/09/2011

AS CRIPTAS DE LUCINA


Lapide Cornelius Martyr
Ao longo da Via Appia, após meados do séc. 2º, tiveram origem as Criptas de Lucina. O nome de Lucina deve-se à notícia trazida pelo Liber Pontificalis na biobrafia de Cornélio: "A bem-aventurada Lucina, com a ajuda de alguns eclesiásticos, recolheu à noite os restos do bispo (dirigente da igreja local) Cornélio para depô-los numa cripta escavada numa propriedade sua no Cemitério de Calisto na Via Appia, em 14 de setembro".

As criptas são formadas por dois hipogeus "alfa" e "beta", pequenas áreas subterrâneas destinadas a sepultura, contendo alguns cubículos, que se comunicam entre si por galerias e possuem exteriormente duas escadas. No séc. 4º essas criptas foram unidas ao Cemitério de Calisto através de uma galeria que permitia aos peregrinos, que tinham visitado as criptas, atingirem diretamente a sepultura de Cornélio aí sepultado.

Lapide Cornelius Martyr
Cornélio, eleito bispo em 251, depois de um ano de à frente da igreja de Roma, foi exilado em Civitavecchia onde morreu no ano seguinte. Devido aos graves sofrimentos padecidos foi considerado mártir. A Igreja de Roma celebrou a data da sua definitiva deposição no cemitério de Calisto em 14 de setembro. A sua sepultura tornou-se meta de constante peregrinação testemunhando o florescente culto aos mártires em Roma.

O corpo de Cornélio foi deposto num amplo nicho quadrangular do hipogeu b e diante dele foi colocada uma placa de mármor onde foram esculpidas as palavras:
Na pare à esquerda da sepultura estão representados os Sisto II e Optato. À direita da sepultura há uma mesa de forma circular: servia para apoiar as lamparinas a óleo que ardiam em honra dos mártires. Vêem-se na parte alta da parede, as figuras de Cornélio e Cipriano, bispo de Cartagena (mártir na perseguição de Valeriano em 258).
As quatro figuras são nimbadas, isto é, têm a auréola ao redor da cabeça; vestem hábitos eclesiásticos e com a mão esquerda seguram um livro ornado de pedras preciosas (o Evangelho). Acima da sepultura de Cornélio, encontra-se parte da lápide em que foram gravados os versos do Dâmaso, por ele ditados como lembrança da construção da escada que leva à cripta e da abertura de uma dupla clarabóia. O bispo que realizou os trabalhos levado pela própria solicitude pelas sepulturas dos mártires, e convida os fiéis a orarem por ele, enfermo e aflito por muitas preocupações.

Encontra-se nessas criptas um cubículo duplo, rico de pinturas do final do séc. 2º com as cenas do Batismo de Jesus, Daniel na fossa dos leões, duas figuras do Bom Pastor, outras duas orantes veladas, o ciclo de Jonas. Encontram-se aqui os famosíssimos peixes eucarísticos: dois peixes e diante de cada um deles um cesto com pães, com uma taça cheia de vinho tinto. Simbolizam a Sanata ceia.

19/09/2011

OS CRISTÃOS DO TEMPO DAS PERSEGUIÇÕES

Catacumbas de Roma.
"Carta de identidade" dos primeiros Cristãos.
Desde do 1º séc. a religião cristã difundiu-se rapidamente em Roma e em todo o mundo, não só pela sua originalidade e universalidade, mas muito também pelo testemunho de fervor, de amor fraterno e de caridade demonstrada pelos cristãos para com todos. As autoridades civis e o próprio povo, antes indiferentes, começaram a demonstrar hostilidade à nova religião, porque os cristãos recusavam o culto ao imperador e a adoração às divindades pagãs de Roma. Os cristãos foram por isso acusados de deslealdade para com a pátria, de ateísmo, de ódio, de delitos ocultos, como incesto, infanticídio e canibalismo ritual; de serem causa das calamidades naturais, como a peste, as inundações, a carestia, etc.
A religião cristã foi declarada: strana et illicita: estranha e elícita (decreto senatorial de 35), exitialis: perniciosa (Tácito), prava e immodica: malvada e desenfreada (Plínio), nova et malefica: nova e maléfica (Suetónio), tenebrosa et lucifuga: obscura e inimiga da luz (Octavius de Minucio), detestabilis: detestável (Tácito); depois foi posta fora da lei e perseguida, porque considerada como o mais perigoso inimigo do poder de Roma, que se baseava na antiga religião nacional e no culto ao imperador, instrumento e símbolo da força e unidade do Império.
Os três primeiros séculos são a época dos mártires, que terminou em 313 com o édito de Milão, com o qual os imperadores Constantino e Licínio deram liberdade à Igreja. A perseguição nem sempre foi contínua e geral, isto é, estendida a todo o império, nem sempre igualmente cruel e cruenta. A períodos de perseguições seguiam-se períodos de relativa tranquilidade.
Os cristão, na grande maioria dos casos, enfrentaram com coragem, frequentemente com heroísmo, a prova das perseguições, mas não a sofreram passivamente. Defenderam-se com força, confrontando tanto a falta de fundamento das acusações que lhes eram dirigidas de delitos ocultos ou públicos, apresentando os conteúdos da própria fé ("Aquilo em que acreditamos") e descrevendo a própria identidade ("Quem somos").