22/03/2013

Do Primeiro papa até Zeferino: 217 d.C.

Esses primeiros bispos romanos são todos de uma insignificância muito grande
O primeiro bispo de Roma de que se tem certeza foi Lino, que morreu por volta do ano 67 d.C. depois de ter escrito, segundo o historiador Platino, algo referente à luta de São Pedro com Simão Mago.
Em seguida veio Anacleto, ou Cleto, como alguns preferem, que cuidou dos fiéis romanos por seis anos. Parece que foi ele que dividiu Roma em "títuli" ou paróquias, ordenando os primeiros sete diáconos. Parece que morreu em 71: uns dizem como mártir, outros o negam.
Veio em seguida a Clemente, de quem já falamos bastante nos artigos passados quanto às suas ideias sobre a constituição do cristianismo.
Pouco se sabe da vida dele. Parece que morreu mártir. Assim afirmam Rufino e o bispo Zósimo, embora Eusébio e Gerónimo o neguem. Ireneu nos deixou escrito que o primeiro bispo romano mártir foi Telésforo.
Por aí o leitor vê a dificuldade de encontrar a verdade histórica desses primeiros séculos. Clemente morreu em 101, quando era imperador Trajano. Sucedeu-lhe Evaristo (101-109) que o "Liber Pontificalis" chama de mártir na perseguição de Trajano. Ordenou seis padres, cinco bispos e dois diáconos.
Então foi eleito Alexandre (109-116). O cardeal Barônio, em sua "Cronologia", coloca a eleição de Alexandre no ano de 121 enquanto a Enciclopédia Mirador o coloca no ano de 109. Alguns autores dizem que o imperador Adriano deu liberdade ao culto cristão, na época do bispo Alexandre.
Como isto foi possível é difícil de explicar, já que Adriano reinou de 117 até 138... Nenhuma cronologia destes primeiros séculos combina! O "Liber Pontificalis" diz que morreu mártir; Sto. Ireneu diz que morreu normalmente em sua cama.
A importância deste bispo romano é ter inventado o ritual da água benta para afugentar o demónio; do pão ázimo e do vinho com água para o ritual da missa.
Mas o cardeal Barônio diz que a água benta, por ser um ritual muito santo, só podia ser inventada

15/03/2013

Sto. Agostinho: a Teologia Como Base do Poder Político Eclesiástico

No livro “A Cidade de Deus”, Agostinho dá a entender que a Igreja é a única representante de Deus na Terra

Para entender o pensamento de Sto. Agostinho lembramos uma particularidade histórica de valor fundamental: até o século IX ser bispo cristão ou mesmo ser um fiel cristão, não significava estar em comunhão com o bispo de Roma.
Essa "comunhão" é uma invenção muito tardia no cristianismo; além do mais, a autoridade e o valor eclesiástico de um bispo qualquer não eram maiores do que aquilo que tem um padre (vigário) qualquer da nossa cidade, com exceção do poder político do bispo de Roma que representava na Itália o imperador que vivia no Oriente.
 
Era-se cristão pela adesão aos decretos dos grandes concílios: de Nicéia (325) em primeiro lugar; mas também de Constantinopla (381) que tratou do Espírito Santo; de Efeso (431) que condenou o nestorianismo e o pelagianismo; de Calcedônia (451) que afirmou que Jesus tinha uma natureza humana e uma natureza divina unidas na única pessoa do verbo; e de Constantinopla II (553).
 
Os bispos eleitos costumavam escrever uns para os outros afirmando sua fé e lealdade aos decretos dos concílios. Os bispos de Roma faziam a mesma coisa: mandavam e recebiam cartas de outros bispos.
Daí o erro de muitos historiadores católicos que imaginam serem estas cartas romanas documentos comprobatórios do "primado": erro imperdoável porque distorce a verdade.
Voltemos a Sto. Agostinho (354-430) nascido no norte da África, numa terra que era uma mistura de raças (númida; púnica; romana) e uma mistura de religiões (orientais; egípcios; pagãos romanos e cristãos).
O "púnico" é a antiga língua da Fenícia cuja cultura sobrepujava em Cartago. Leia-se o interessante romance histórico "O Cartaginês" de Manáf Hardan; Ed. Edicon; SP; 1985.
Mas não deixe de ler também J. Mac Cabe: "St. Augustine and his Age"; London; 1926;

02/03/2013

A Ideologia e o Mito

A Roma cristã e seu poder estão fundamentados sobre a Roma pagã

 
Atenção, leitor! Esta obra que estou começando a escrever não é Histó­ria do Cristianismo ou História da Igreja cris­tã, mas tão somente a história dos homens que ocuparam o cargo de bispos na cidade de Roma. Vou falar de homens e de sua ideologia do poder. Só.
 
Nos casos específicos dos bispos de Roma chamo de ideo­logia a interpretação que os mes­mos fizeram e fazem de uma si­tuação religiosa que tem um as­pecto social e político.

Essa interpretação acontece a partir de uma evolução histó­rica para a qual confluíram elementos políticos, morais, religio­sos, filosóficos e econômicos que implicaram numa tomada de posição, de modo que em primeiro lugar foram elaboradas doutrinas para justificar aquela interpretação e, em seguida, foram tomadas as medidas que se julgara necessárias para a realização do sonho interpretativo de situação já programada, para realizá-lo com referência ao poder.

Neste caso, a "ideologia do po­der" é o sonho espalhado no gran­de círculo eclesiástico romano que justifica, sob a luz da religião, todos esses elementos políticos, econômicos, morais e religiosos de uma supremacia (ou ditadura) papal.

Por "poder" aqui entendo aquele aspecto da faculdade da vontade que quer colocar-se acima dos outros para dominá-los ou física, ou política, ou economicamente, sempre, po­rém, sob o manto da religião.

Noutras palavras: poder, enquanto tal, significa capacidade de dominar. Por isso, neste caso, ideologia do poder é o sonho de domínio que usa da religião para estar acima do bem e do mal, seja político ou eco­nômico.

Deste modo, a ideologia do po­der se torna, num certo momen­to, o substrato de toda uma men­talidade. Seria o caso de falar do inconsciente coletivo que se reflete no inconsciente indivi­dual dos bispos de Roma.

Para Sto. Agostinho, só pa­ra citar um dos grandes respon­sáveis desta ideologia, "o Es­tado justo deveria ser aquele em que a verdadeira religião é mantida pela lei e pela autori­dade e nenhum Estado pode­ria ser justo a partir do adven­to do cristianismo, a menos que não fosse também cristão". (G. Sabine; "História das Teorias Políticas"; Ed. F. de C; RJ; 1964; pág. 198).

Em todos os próximos arti­gos só tratarei da ideologia do po­der dos homens que foram bis­pos em Roma. Se, a um certo momento, estes homens deram ao seu cargo de bispos um cunho universal é porque os homens que ocupavam este cargo com­partilhavam de uma ideologia que, embora não fosse da essên­cia do cargo, quiseram enxertá-la no mesmo cargo.

O que mais impressiona o his­toriador é que nunca foi escrito algo com referência direta e ex­clusiva a este assunto. Todos os historiadores misturam a vida política do bispo de Roma com a história da vida cristã no Oci­dente, de modo que vida cristã e vida papal se fundem.

Sem contar que muitos his­toriadores colocam um manto so­bre o assunto para que o leitor não entenda nada.

Por exemplo: "A Reforma na Idade Média" de Brenda Balton (Edições 70) só diz à página 20: "A Igreja tornara-se negligente e mundana". E George Duby em "O Ano Mil" (Ed. 70) nem fala da vida pessoal dos papas ou de sua ideologia do poder...

E é justamente o ano 1000 que é o mais importante para este assunto! Quanto